Igreja de Santa Engrácia

 

O Panteão Nacional acolhe e homenageia algumas das mais importantes personalidades da história e cultura portuguesa de todos os tempos, os Presidentes da República Manuel de Arriaga, Teófilo Braga, Sidónio Pais e Óscar Carmona, os escritores Almeida Garrett, Aquilino Ribeiro, Guerra Junqueiro e João de Deus, a artista Amália Rodrigues, o Marechal Humberto Delgado e Aristides de Sousa Mendes.

 

     Personalidades homenageadas

Luís de Camões (1524/1525? -1580)

Considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa e mesmo dos maiores da Humanidade, Luís Vaz de Camões celebrizou-se na literatura pela sua obra épica, Os Lusíadas, publicada pela primeira vez em 1572.

O poeta terá nascido por volta de 1524/1525, em local que permanece incerto, tendo frequentado, ao que se julga, o curso de Humanidades na Universidade de Coimbra.

Em Goa, para onde partiu, em 1553, integrado na armada de Fernão Álvares Cabral, escreveu grande parte de Os Lusíadas — uma epopeia onde surgia singularmente narrada a História de Portugal e as aventuras do povo luso no Mundo. Camões, o poeta maldito, vítima do destino, incompreendido, abandonado pelo amor, mas simultaneamente um homem determinado, um grande humanista e um grande pensador, torna-se desde o Romantismo num símbolo dos valores nacionais. Os presumíveis restos mortais do poeta são recuperados da igreja de Santa Ana em Lisboa e levados para o Mosteiro de Belém em 1880, por ocasião da celebração do tricentenário da sua morte.


Pedro Álvares Cabral (1467/1468-1520/1526)

Navegador português, capitão-mor da armada que, em 1500, partiu para a Índia, numa viagem atribulada, acabando por aportar em terras chamadas de Vera Cruz. O Brasil era, assim, oficialmente descoberto a 22 de abril de 1500.

Nascido, ao que se julga, na Beira Baixa (Belmonte?), mudou-se para o Seixal com onze anos. Em Lisboa estudou Literatura, História e Ciência, além de artes militares. Depois do regresso de Vasco da Gama, em 1498, foi nomeado por D. Manuel I comandante da segunda viagem marítima com destino à Índia, que partiria da praia do Restelo a 9 de março de 1500. A missão de Pedro Álvares Cabral era a de estabelecer relações diplomáticas e comerciais com o samorim de Calecute, consolidando o papel económico de Portugal nas rotas do Índico.

A 14 de março de 1903, parte dos seus restos mortais foram transportados da Igreja da Graça de Santarém, onde está sepultado, para um jazigo na Antiga Sé do Rio de Janeiro.


Infante D. Henrique (1394-1460)

Quinto filho do rei D. João I e de D. Filipa de Lencastre, cuja descendência direta Camões apelidou de “Ínclita Geração”, nasceu no Porto a 4 de fevereiro de 1394. Teve um papel determinante nos Descobrimentos Portugueses.

Foi uma das figuras mais importantes do início dos Descobrimentos Portugueses, sendo decisiva a sua ação no Norte de África, nas conquistas feitas aos muçulmanos, e no Atlântico com a descoberta dos arquipélagos da Madeira e dos Açores e o reconhecimento e fixação de entrepostos comerciais na costa ocidental africana.

À data da morte do infante, em 1460, a costa africana banhada pelo Atlântico havia sido explorada até ao que é hoje a Serra Leoa.

D. Henrique morreu a 13 de setembro, na vila de Sagres, com 66 anos. Sepultado provisoriamente na já desaparecida igreja de Santa Maria da Graça de Lagos, os seus restos mortais foram trasladados para o Mosteiro da Batalha, onde permanece num dos túmulos parietais da Capela do Fundador.


Vasco da Gama (1460/1469?-1524)

Grande navegador português da época dos Descobrimentos, comandou a armada que haveria de alcançar a cobiçada Índia por mar (1497-1498), abrindo aos portugueses uma das suas épocas mais prósperas e um domínio marítimo sem precedentes.

Vasco da Gama é incumbido por D. Manuel I de chefiar a esquadra com destino à Índia, tornando-o no primeiro comandante a realizar a viagem por mar da Europa à Ásia.

A reputação alcançada pelo navegador português nas suas missões orientais, conseguindo obter concessões comerciais importantes e fundar feitorias portuguesas na Índia (Cochim e Cananor), levaram D. João III a nomeá-lo governador da Índia portuguesa, com o título de vice-rei, em 1524. Morreria nesse mesmo ano, em Cochim, vítima de malária.

Os seus restos mortais foram trasladados para Portugal, em 1538/1539, para a igreja do Convento de Nossa Senhora das Relíquias, onde permaneceria até 1880, altura em que os seus restos mortais foram acolhidos no Mosteiro dos Jerónimos por ocasião da celebração do tricentenário da morte de Luís de Camões.


Afonso de Albuquerque (1453(?)-1515)

Marinheiro, soldado, estadista, administrador e diplomata, de origem fidalga, foi o 2.º governador da Índia Portuguesa (1508-1515) cujas ações políticas e militares foram determinantes para o estabelecimento do império português no Índico.

Sob ordem de D. Manuel I, Afonso de Albuquerque partiu no ano de 1503 na sua primeira expedição à Índia, aonde voltaria em 1506. Em 1513, torna-se o primeiro comandante europeu a navegar no Mar Vermelho.

A estratégia militar aliada a grandes capacidades diplomáticas permitiram-lhe assegurar o controlo marítimo e o monopólio comercial da Índia, criando as bases do Império Português do Oriente.

Morreu no mar a 16 de dezembro de 1515. Foi sepultado na igreja de Nossa Senhora da Serra, em Goa, de onde foi trasladado, em 1566, para o panteão familiar na igreja do Convento de Nossa Senhora da Graça, em Lisboa. Com a destruição do cenóbio pelo terramoto de 1755, perdeu-se o túmulo do grande vice-rei.


D. Nuno Álvares Pereira (1360-1431)

De origem nobre, D. Nuno Álvares Pereira enquanto comandante militar teve um papel fundamental na crise de 1383-1385, onde Portugal lutou pela sua independência face a Castela.

Em 1384, foi nomeado por D. João de Avis Condestável de Portugal, na sequência da vitória obtida frente aos castelhanos, na batalha dos Atoleiros, onde se distinguiu pela coragem e estratégia militar.

O seu génio guerreiro revelou-se de novo em Aljubarrota, a 14 de agosto de 1385. Esta batalha viria a ser decisiva para a consolidação da independência portuguesa.

Fundou o Convento de Nossa Senhora do Vencimento do Monte do Carmo em 1389. Respondendo a um apelo interior, aí ingressou como Frei Nuno de Santa Maria, em 1423.

Foi beatificado em 1918 pelo Papa Bento XV e canonizado pelo Papa Bento XVI, em 2009.

Perdido o seu túmulo com a destruição causada pelo terramoto de 1755, foram recuperadas algumas ossadas, tomadas como relíquias, hoje divididas entre a Capela da Ordem Terceira, no Largo do Carmo, e a Igreja do Santo Condestável, em Lisboa.


Aristides de Sousa Mendes (1885-1954)

Aristides de Sousa Mendes nasceu em Cabanas de Viriato a 18 de Julho de 1885, no seio de uma família tradicional, católica e monárquica.

Ingressou, depois de concluir estudos superiores em Direito, na carreira diplomática. Tal como o seu irmão gémeo, César de Sousa Mendes, que viria a ser Ministro dos Negócios Estrangeiros (1932-1933).  Aristides de Sousa Mendes  exerceu funções como cônsul de carreira em vários postos na América, em África e na Europa. Foi, em 1939, nomeado cônsul-geral em Bordéus. Foi este último posto que determinou o fim da sua carreira diplomática e a sua entrada na História.

A cidade de Bordéus começou a ser invadida, em maio de 1940, por massas de gente em fuga, ante o avanço nazi em França. Desobedecendo a ordens superiores, Aristides de Sousa Mendes concedeu milhares de vistos, o que permitiu que muita gente se salvasse. A ousadia custou-lhe o cargo e valeu-lhe a aposentação compulsiva. Aristides terminou os seus dias doente e em grandes dificuldades financeiras. Faleceu aos 68 anos, no dia 3 de abril de 1954.

A sua reabilitação levou décadas a concretizar. Em 1966 é-lhe atribuído, pelo Estado de Israel, o título de “Justo entre as nações”, pelo papel desempenhado no salvamento de judeus. Só muito mais tarde, já na década de 80, o Estado Português reabilitou Aristides de Sousa Mendes, reintegrando-o na carreira diplomática e atribuindo-lhe a Ordem da Liberdade e a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.

Em 19 de outubro de 2021 Aristides de Sousa Mendes foi alvo de homenagem, através do descerramento de uma placa, no Panteão Nacional. Terminava assim o longo percurso de um homem incomum, cuja coragem teve pesados custos pessoais e que valeu a vida a muitos outros.

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     Personalidades sepultadas

Manuel de Arriaga (1840-1917)

Manuel José de Arriaga Brum da Silveira e Peyrelongue foi o primeiro Presidente da República Portuguesa, constitucionalmente eleito, quando contava já 71 anos de idade.

Natural da cidade da Horta, nos Açores, Manuel de Arriaga formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, onde chegou a ser Reitor. Com uma carreira política intensa, ligada ao Partido Republicano, pelo qual chegou quatro vezes a deputado pelo círculo da Madeira, foi também escritor, poeta e um grande orador. Publicou, além de outros trabalhos, dois volumes de versos, «Cantos Sagrados» (1899) e «Irradiações» (1901).

Depois da proclamação do regime republicano, foi chamado a desempenhar as funções de Procurador da República. Eleito Presidente da República a 24 de agosto de 1911, ocuparia o cargo até 1915, num período bastante agitado, marcado pela sucessão de governos, por uma grande instabilidade entre os partidos e por uma forte tensão internacional que iria desembocar na Primeira Grande Guerra.

Renunciaria ao cargo presidencial na sequência da contestação de que foi alvo por parte do Partido Democrático, liderado por Afonso Costa, dando conta das vicissitudes do seu mandato no livro Na Primeira Presidência da República – Um Rápido Relatório, que publicaria em 1916.

Sepultado em jazigo de família no Cemitério dos Prazeres à data da sua morte ocorrida a 5 de março de 1917, foi trasladado para o Panteão Nacional a 16 de setembro de 2004.


Teófilo Braga (1843-1924)

Joaquim Teófilo Fernandes Braga, nascido na cidade de Ponta Delgada na ilha açoriana de S. Miguel, formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, tendo-se distinguido como político, escritor e ensaísta. No seu percurso político destaca-se a liderança do Governo Provisório formado com a instauração do regime republicano (de 6 de outubro de 1910 a 3 de setembro de 1911) e o exercício do cargo de Presidente da República em 1915.

Teófilo Braga cedo aderiu aos ideais republicanos, sendo um dos fundadores do Partido Republicano Português. Foi Presidente do 1.º Governo Provisório da República Portuguesa em 1910 e mais tarde substitui Manuel de Arriaga, cumprindo mandato entre 29 de maio e 5 de outubro de 1915, altura em que foi substituído por Bernardino Machado.

A notoriedade e reconhecimento que alcançara na escrita e o papel pioneiro que tivera na elaboração da História da Literatura Portuguesa permitiram-lhe conquistar o lugar de professor de Literaturas Modernas no Curso Superior de Letras (1872-1910).

Teófilo Braga, autor de uma vasta e variada obra literária composta por mais de três centenas de títulos, escreveu poesia, obras de ficção e vários ensaios dedicados à História Universal, do Direito, do Teatro, da Literatura. Coube-lhe ainda a recolha de contos e canções tradicionais e a sua publicação antológica (Cancioneiro Popular, 1867; Contos Tradicionais do Povo Português, 1883.

Falecido com 81 anos, foi sepultado na sala do Capítulo do Mosteiro dos Jerónimos, onde esteve até à inauguração do Panteão Nacional em 1966.


Sidónio Pais (1872-1918)

Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais nasceu em Caminha no primeiro dia de maio de 1872. Foi como militar e político que se destacou. Após a implantação da República, exerceu funções de deputado, Ministro do Fomento, da Guerra, das Finanças, dos Negócios Estrangeiros, de embaixador de Portugal em Berlim, assumindo a Presidência da República após o golpe de estado de 1917.

Sidónio Pais, depois de iniciar uma carreira militar na Escola do Exército, doutorou-se em Matemática na Universidade de Coimbra, onde foi professor catedrático.

A oposição à participação de Portugal na Grande Guerra e a afirmação como principal líder da contestação ao Governo, à frente da Junta Militar Revolucionária, conduziram-no à liderança do golpe de estado, de 5 de dezembro de 1917 que afastou da presidência Bernardino Machado. Sidónio Pais assumiria as funções presidenciais a 27 de dezembro de 1917, e simultaneamente de líder do Governo, até nova eleição. Proclamado Presidente da República a 9 de maio de 1918, por sufrágio direto dos cidadãos eleitores, obteve uma votação sem precedentes, que contou com o apoio de monárquicos e católicos. O estado de graça do regime sidonista terminaria com uma forte contestação social. O Presidente não escaparia à espiral de violência instalada, sendo assassinado a tiro, a 14 de dezembro de 1918, na Estação do Rossio, por José Júlio da Costa, um militante republicano.

Sidónio Pais viria a entrar no imaginário português como um misto de salvador e de mártir. O seu corpo tumulado, primeiro no Mosteiro de Belém e, depois de 1966, no Panteão Nacional, foi sempre objeto de devota romagem.


Óscar Carmona (1869-1951)

António Óscar de Fragoso Carmona, descendente de militares, nascido em Lisboa, formou-se no Colégio Militar e na Escola do Exército. Nomeado por Decreto na sequência da renúncia de Bernardino Machado, assumiu as funções de Presidente da República a 16 de novembro de 1926, vindo a ser o décimo-primeiro Presidente da República Portuguesa e, a partir de 1933, o primeiro do Estado Novo.

Oficial de cavalaria, Óscar Carmona, construiu uma notável carreira, ascendendo a marechal, em 1947. Ao longo do seu percurso profissional e político desempenhou diversos cargos de destaque ao serviço das Forças Armadas e do Estado: foi Diretor da Escola Prática de Cavalaria de Torres Novas (1918-1922), Ministro da Guerra (1923), presidente do Ministério (1926-1928) e Ministro dos Negócios Estrangeiros (1926). Assume a Presidência da República em 1926.

Destacando-se pela sua habilidade política, facilidade de relacionamento e competência técnica, Carmona surgiu como uma solução de consenso, com forte poder arbitral, para três questões fundamentais para o regime de Salazar: as relações entre os militares; as relações entre os militares e os políticos; e as relações entre monárquicos e republicanos. Num regime que tem sido caraterizado como de “presidencialismo do primeiro-ministro”, o seu papel político face a um Salazar de poder indiscutível, foi sempre discreto. Estas razões justificam que tenha permanecido no cargo de Presidente da República durante um quarto de século, até à data da sua morte, ocorrida a 18 de abril de 1951. Sepultado no Mosteiro dos Jerónimos até à conclusão do Panteão Nacional para onde foi trasladado em 1966, aquando da sua inauguração. Foi o Presidente da República Portuguesa que mais tempo permaneceu em funções.


Almeida Garrett (1799-1854)

João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, nascido no Porto, educado na Ilha Terceira e depois em Coimbra, onde se matriculou no curso de Direito, destacou-se na sociedade portuguesa como escritor e político.

Liberal, entusiasta da Revolução de 1820, Almeida Garrett foi obrigado a exilar-se após o golpe de 1822, no qual o liberalismo foi derrotado. Durante o exílio, primeiro em Inglaterra, onde toma contacto com o movimento romântico, e depois em França, na região do Havre, Garrett afirmou-se como um dos introdutores do Romantismo em Portugal, fixando uma viragem na literatura portuguesa, que passou a privilegiar os valores e a história nacionais.

Grande impulsionador do teatro em Portugal, promoveu a edificação do Teatro Nacional e a criação do Conservatório de Arte Dramática. Visando a renovação da dramaturgia portuguesa, escreveu e levou à cena peças de carácter histórico.

No âmbito do culto patriótico, foi de sua iniciativa a ideia de criação de um Panteão Nacional, a ser instituído no Mosteiro dos Jerónimos, que, à imagem dos modelos francês e inglês, homenageasse alguns dos mais insignes heróis nacionais. Os seus restos mortais viriam a ser ali depositados, em 1903, sendo trasladados para Santa Engrácia em 1966, aquando da inauguração do monumento como Panteão Nacional.


Aquilino Ribeiro (1885-1963)

Escritor, natural de Sernancelhe, estudou em Lamego antes de entrar no Seminário de Beja. Depressa abandonou o meio religioso, fixando-se em Lisboa. Destacou-se como romancista na primeira metade do século XX, alcançando grande êxito junto do público e da crítica.

Nas obras de referência de Aquilino Ribeiro destacam-se a coletânea de contos «Estrada de Santiago» (1922) e os romances «Terras do Demo» (1919), «Andam Faunos pelos Bosques» (1926), «Volfrâmio» (1944), «O Malhadinhas» (1946), «A Casa Grande de Romarigães» (1957), «Quando os Lobos Uivam» (1958) ou «O Livro da Marianinha» (1962).

O seu ideário republicano ficou registado na colaboração com alguns jornais, como «A Vanguarda», ou ainda pela obra de ficção de propaganda republicana, «A Filha do Jardineiro» (1907), que escrevera em parceria com José Ferreira da Silva.

A sua atividade jornalística e a sua ligação ao Grande Oriente Lusitano obrigaram-no a exilar-se em diferentes momentos da sua vida, em França, na Alemanha e em Espanha.

Foi professor no Liceu Camões, conservador da Biblioteca Nacional, fundador e presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores.

A singularidade da sua obra, onde sobressai o uso de termos rústicos, arcaicos e de gíria, revelando valores verbais inexplorados na língua portuguesa, levou a que, em 1960, fosse proposto para o Prémio Nobel da Literatura.

Do talhão dos escritores do cemitério dos Prazeres, onde se encontrava sepultado, foi trasladado, em 2007, para o Panteão Nacional.


Guerra Junqueiro (1850-1923)

Nascido em Freixo de Espada-à-Cinta, Abílio Manuel de Guerra Junqueiro, formou-se em Direito na Universidade de Coimbra. Depois de ter passado pelo Seminário, escolheu seguir uma carreira literária, distinguindo-se como poeta e escritor.

Guerra Junqueiro é autor de obras como «Duas Páginas dos Catorze Anos» (1864), «Vozes sem Eco» (1867), «Baptismo de Amor» (1868), «A Morte de D. João» (1874), «Contos para a Infância» (1875), «A Velhice do Padre Eterno» (1885), «Os Simples» (1892).

Fez parte do movimento académico de Coimbra, conhecido como Geração de 70, ao lado de Antero de Quental, Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, pugnando pela renovação da vida política e cultural portuguesa.

Desenvolveu uma intensa atividade política, tendo sido deputado entre 1878 e 1891. Na sequência do Ultimatum inglês (1891), Guerra Junqueiro publicaria os opúsculos «Finis Patriae» e «Pátria», juntando-se à contestação nacional gerada em torno do governo português e da casa de Bragança pela falta de firmeza na oposição à perda de domínio português nos territórios coloniais africanos situados entre Angola e Moçambique.

A faceta de poeta panfletário acentuaria a forte ligação ao ambiente revolucionário que conduziria à queda da Monarquia e à implantação da República, em 1910. Faleceu a 7 de julho de 1923 e teve exéquias fúnebres nacionais para o Mosteiro dos Jerónimos, de onde foi conduzido para o Panteão Nacional em 1966.


João de Deus (1830-1896)

João de Deus de Nogueira Ramos, nascido em São Bartolomeu de Messines no Algarve, ingressou no Seminário de Coimbra, mas a falta de vocação eclesiástica levou-o a cursar Direito. Sem gosto particular pela advocacia tornar-se-ia, por vocação, um ilustre poeta lírico.

João de Deus é autor dos poemas publicados nas coletâneas «Flores do Campo» (1868), «Ramo de Flores» (1869), «Despedidas de Verão» (1880) e «Campo de Flores» (1893).

Viria, porém, a alcançar extraordinária popularidade como pedagogo, pelo seu envolvimento nas campanhas de alfabetização, criando um inovador método de ensino da leitura às crianças, assente na Cartilha Maternal, de sua autoria (1876), aprovado, dois anos depois, como o método nacional de aprendizagem da leitura e da escrita da língua portuguesa.

Foi inumado no Panteão Nacional, em 1966, depois de, no ano da sua morte, os seus restos mortais terem sido depositados na capela do batistério do Mosteiro dos Jerónimos.


Amália Rodrigues (1920-1999)

Amália da Piedade Rebordão Rodrigues, nascida na freguesia da Pena, em Lisboa, distinguiu-se como fadista e atriz.

No teatro e cinema Amália Rodrigues foi figura principal na peça «A Severa» (1954) e protagonizou alguns filmes, entre eles, «Capas Negras» (1946), «Amantes do Tejo» (1954), «As Ilhas Encantadas» (1964), «Via Macau» (1965), «Véronique» (1966). É, porém, como “Rainha do Fado” que se torna mundialmente conhecida, distinguindo-se tanto pela qualidade do seu timbre vocal e das suas interpretações como pelos contributos prestados para a história daquele género musical, ao introduzir a novidade de cantar poemas de autores portugueses consagrados, de Camões a Ary dos Santos.

Entre os seus fados de maior êxito contam-se «Estranha Forma de Vida», «Povo Que Lavas no Rio», «Ai Mouraria», «Barco Negro», «Casa Portuguesa», «Casa da Mariquinhas», «Foi Deus».

Dona de uma voz soberba, com uma carreira internacional brilhante, iniciada nos anos 40, jamais igualada por qualquer outro artista português, Amália foi uma das grandes cantoras do século XX. O simbolismo do Fado na cultura portuguesa, aliado às qualidades artísticas da obra de Amália Rodrigues e aos contributos que deu para a difusão da cultura e da língua portuguesas em todo o mundo, de Paris a Tóquio, da União Soviética aos Estados Unidos, fizeram dela uma das mais reconhecidas embaixatrizes de Portugal.

Faleceu a 6 de outubro de 1999, na sua casa em S. Bento (Lisboa), e a singularidade da sua carreira assegurou-lhe, em 2001, um lugar no Panteão Nacional.


Humberto Delgado (1906-1965)

Humberto da Silva Delgado, distinto militar e político, natural de Torres Novas, concluiu os cursos de Artilharia (1925), de Piloto-Aviador (1928) e de Estado-Maior (1936). Depois de ter apoiado, durante largos anos, as posições oficiais do Estado Novo, o seu percurso político ficaria marcado pela candidatura à Presidência da República nas eleições presidenciais de 1958.

Humberto Delgado, nomeado diretor do Secretariado da Aviação Civil, em 1944, fundou no ano seguinte os Transportes Aéreos Portugueses (TAP). Único candidato da oposição nas eleições de 1958, foi, contudo, derrotado nas urnas, num processo eleitoral fraudulento que deu a vitória ao candidato do regime, Américo Tomás. A sua atitude de afrontamento à ditadura salazarista valeu-lhe o cognome de “General sem Medo”.

Na sequência da derrota eleitoral, foi demitido das forças armadas e obrigado a exilar-se no Brasil, país onde encabeçou um movimento de oposição ao governo português.

Foi assassinado pela polícia política perto de Badajoz, em Villanueva del Fresno, a 13 de fevereiro de 1965, onde fora atraído a uma cilada, julgando vir ao encontro de opositores ao regime do Estado Novo.

Os seus restos mortais, depois de identificados, foram inumados no cemitério de Villanueva del Fresno. A trasladação para Portugal apenas ocorreu a 23 de janeiro de 1975, para o cemitério dos Prazeres, em Lisboa.

Humberto Delgado, símbolo da luta contra a ditadura salazarista, foi nomeado, a título póstumo, Marechal da Força Aérea em 1990, altura em os seus restos mortais foram trasladados para o Panteão Nacional.


Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

Sophia de Mello Breyner Andresen, um dos maiores poetas do século XX português, nasceu no Porto a 6 de novembro de 1919. As raízes dinamarquesas remontam ao seu bisavô paterno, que se fixou no Porto. Foi na Quinta do Campo Alegre, atual Jardim Botânico do Porto, e na praia da Granja que viveu a sua infância e juventude e onde terá recebido influências decisivas para a sua obra.

Criada na velha aristocracia portuguesa e educada segundo valores tradicionais, frequentou Filologia Clássica na Universidade de Lisboa. Tornou-se uma das figuras mais representativas de uma atitude política democrática, denunciando o regime salazarista e os seus seguidores. Publicou os primeiros versos em 1940 na revista Cadernos de Poesia, com a qual colaborou.

Entre 1944 e 1997, publicou 14 livros de poesia, nos quais privilegiou temas como a Natureza – com destaque para o mar, a sua beleza e os seus mitos –, a procura da justiça, a civilização grega e a importância da poesia. Dedicou-se igualmente à prosa, escrevendo contos, peças de teatro e histórias para a infância.

Em 1964 recebeu o Grande Prémio de Poesia pela Sociedade Portuguesa de Escritores pelo seu Livro Sexto. Em 1999 foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa: o Prémio Camões. Recebeu ainda o Prémio Max Jacob em 2001 e o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana em 2003, entre outros.

Faleceu, aos 84 anos, no dia 2 de julho de 2004, em Lisboa. Foi trasladada para o Panteão Nacional a 2 de julho de 2014, dez anos após a sua morte.


Eusébio da Silva Ferreira (1942-2014)

Eusébio da Silva Ferreira foi considerado um dos melhores jogadores de futebol do século XX, o seu extraordinário desempenho, velocidade, técnica e remate fortíssimo tornaram-no conhecido como o Pantera Negra.

Eusébio nasceu em Lourenço Marques, Moçambique, e desde muito cedo começou a jogar futebol com os seus amigos em campos improvisados. No entanto, foi em Portugal, onde se fixou com 17 anos, que desenvolveu a sua extraordinária carreira.

De 1961 a 1973, integrou a seleção Portuguesa. Em 1966, vestindo a camisola com o número 13, foi o melhor marcador do Campeonato do Mundo, em Inglaterra, sendo reconhecido como um dos melhores marcadores de sempre do futebol mundial.

Em 1965 ganhou a Bola de Ouro – Melhor Jogador Europeu. Foi o primeiro jogador a ganhar a Bota de Ouro, em 1968, feito que repetiria em 1973.

Em 1973 obteve a sua última internacionalização; contudo, só 7 anos depois deixaria de jogar, altura em que passou a integrar a comissão técnica da Seleção Portuguesa, até à sua morte.

Do cemitério do Lumiar, onde foi sepultado à data da sua morte a 5 de janeiro de 2014, foi trasladado para o Panteão Nacional a 3 de julho de 2015.