O Panteão Nacional está a dar destaque às personalidades aqui sepultadas. Com pequenos textos, procuramos que todos os interessados neste monumento e no seu significado simbólico, conheçam melhor a biografia dos homenageados com Honras de Panteão.

Em janeiro e fevereiro de 2018, a personalidade em destaque é João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett (Porto, 4 de fevereiro de 1799 — Lisboa, 9 de dezembro de 1854).

Sobre a cidade do Porto, local onde nasceu

“Se nessa cidade há muito quem troque o B pelo V, há muito pouco quem troque a honra pela infâmia e a liberdade pela servidão”

Almeida Garrett

O que há e o que há de vir

“O povo nunca se excita fortemente pelo bom do que há de vir, senão pelo mau e insuportável do que é.”

Almeida Garrett

Sobre a Pintura:

“A poesia animada da pintura exprime a natureza toda; a dos versos. Porém, menos viva e exata, falha em muita parte na expressão de suas belezas. Que poeta poderia dar uma ideia de Rómulo como David no seu quadro das Sabinas? Que versos nos poderiam fazer imaginar a Divindade como a transfiguração de Rafael? Que poema nos faria conceber a majestade dum Deus criador dando forma ao caos, e ser ao Universo, como a pintura de Miguel Ângelo?”

Almeida Garrett – Ensaio sobre a História da Pintura

 

Magalhães Basto sobre Almeida Garrett

“Foi Garrett corajosa e patrioticamente, quem prestou à nação o relevantíssimo serviço de pôr fora de moda em Portugal, a grosseria das maneiras, o desleixo no vestuário, a vulgaridade charra, as costumeiras abnóxias, as tendências para o reles, que eram de bom-tom entre muitos rapazes da melhor sociedade da corte (…). Foi Garrett quem nos deu ares de povo moderno, livrando-nos da aparência ordinária e grotesca que geralmente nos caracterizava até ao seu incontestável reinado”.

 

Aprender até morrer

Mas até morrer aprender, diz o adágio; e assim é. É também é aforismo de moral, aplicável outrossim a coisa literárias: que para a gente achar a desculpa aos defeitos alheios, é considerar, é pôr-se uma pessoa nas mesmas circunstâncias, ver-se envolvido nas mesmas dificuldades.

Almeida Garrett

 

A inspiração do Tejo e d’Os Lusíadas

“As minhas janelas, agora são as primeiras de Lisboa; dão em cheio por todo esse Tejo. Era uma destas brilhantes manhãs de inverno, como as não há senão em Lisboa. Abri Os Lusíadas à ventura, deparei com o canto IV e pus-me a ler aquelas belíssimas estâncias:

E já no porto da ínclita Ulisseia…

Pouco a pouco amotinou-se-me o sangue, senti baterem-me as artérias da fonte… As letras fugiram-me do livro, levantei os olhos (…) vi o tejo, vi a bandeira portuguesa flutuando com a brisa da manhã, a Torre de Belém ao longe… e sonhei, sonhei que era português, que Portugal era outra vez Portugal”.

Almeida Garrett – Viagens na minha Terra

 
O amor

“É falso que o amor seja cego; o amor vulgar pode sê-lo, o amor verdadeiro tem olhos de lince.”

Almeida Garrett

O coração

“O coração é cofre precioso de que, raro, confia homem prudente a chave a seu mais Intimo. ”

Almeida Garrett

Passos Manuel sobre Almeida Garrett

Manuel da Silva Passos que ficou conhecido por Passos Manuel dizia acerca de Garrett “ Meu Garrett – o homem da pena de ouro”

Imaginação

Imaginar é sonhar, dorme e repousa a vida no entretanto; sentir é viver activamente, cansa-a e consome-a.

Almeida Garrett

O Homem

O homem é uma grande e sublime criatura, por mais que digam filósofos.

Almeida Garrett

A caridade

“A caridade é uma virtude que não desacompanha jamais suas irmãs, a Fé que dá o ânimo e a Esperança que alenta o coração.”

Almeida Garrett

Ramalho Ortigão sobre Almeida Garrett

“Garrett aparece como um mensageiro do novo espírito europeu. Foi ele que, de chapéu branco, calças de quadrados, gravata encarnada, monóculo no olho, um charuto nos beiços e uma chibata em punho, vergastou as orelhas do velho mundo português e o obrigou a abrir a primeira garrafa de champanhe. Nós não éramos todos senão uns pobres velhotes, uns gingas, uns chéchés. Foi ele o primeiro que, por meio dos seus livros, nos deitou nos copos e nos fez beber o vinho da mocidade. E foi depois de reconfortados por esse generoso licor de poesia, que nós aprendemos a estimar a beleza, a amar a liberdade, a compreender as artes e a querer o progresso”.

Sobre as dificuldades da criação de um Panteão Nacional

“Acanharam-se, recuaram com o Pantehon, fizeram mal (…) era um pensamento nobre, nacional, útil, exequível, necessário, que podia salvar tanto monumento para a história, ressuscitar tantas memórias que se apagam, levantar tanto ânimo baixo que decai, fazer renascer talvez o antigo entusiasmo português pela glória, que morreu afogado nas teorias utilitárias”.

Almeida Garrett – Um Auto de Gil Vicente

O amor

“ O amor é essencial parte do drama porque o drama é a vida, e o amor essencial parte da vida”

Almeida Garrett in O Alfageme de Santarém

1º Discurso Parlamentar de Almeida Garrett

“Eu não sou aristocrata, nem por nascimento, nem por princípios. Mas ai da Nação que, como Nação, não for aristocrata. Ai da Nação que não crê cegamente e com preconceitos ainda, na sua história, nas maravilhas dos seus tempos heroicos, nos prodígios e nos milagres de suas épocas fabulosas! Miserável e desprezível nação a de desalmados utilitários, ressequidos em seus cálculos de cifras, que abjuram quanto há de elevado e sublime, até, nessas memórias vaidosas, até desses pergaminhos que lhe dizem. Nação portuguesa tu descendes de Egas Moniz e de Nun’Álvares”.

O Homem das Letras

“A vida da carne é tão curta para o Homem das letras!… A da glória não lhe põem termo os Homens.”

Almeida Garrett – in: José Osório de Oliveira. O romance de Garrett

Sobre o Património

“O que não respeita os templos, os monumentos (…) é mau amigo da Liberdade, desonra-a, deixa-a em desamparo, entrega-a à irrisão e ao ódio ao povo”

Almeida Garrett – Viagens na minha Terra